pra coisa nenhuma. mesmo.
quinta-feira, julho 31, 2003
 
algumas primeiras audições
hail to the thief, radiohead – discaço, daqueles que dá vontade de ouvir de novo imediatamente quando termina. todo o bafafá em torno da volta às guitarras e a um som mais básico me assustou, mas é pura balela. as composições continuam muito bem trabalhadas, fora do padrão, cheias de todas as sutilezas e os detalhes de kid a e amnesiac. a ouvir e ouvir e ouvir, ainda muitas vezes.
whip it on, raveonettes – se você ainda não comprou o seu felino do ano, não procure mais. eis os raveonettes, uma banda que parece com o primeiro primal scream, com o my bloody valentine pré-anything, com o jesus & mary chain. na terceira música já dá pra ver que é tudo a mesma coisa, power pop com guitarra distorcida e nenhuma criatividade. se a gente pegou tudo da primeira vez, por que ouvir uma segunda?
eyes closed ep, alias – mais um trabalho bem bacana do alias, um dos produtores do selo anticon. aqui, é hip-hop abstrato, lento, evocando os momentos mais líricos do dj shadow. pra quem conhece o primeirão the other side of the looking glass e gosta, baixar esse aí é automático. mais informações sobre o alias no site da anticon. aliás (sem trocadilhos, ugh!), como é difícil a anticon lançar alguma coisa que não preste... vale a pena acompanhar tudo...
 
 
pra ouvidos e corações
finalmente chega a temporada de shows mais estimulante do rio de janeiro. não, não é no canecão nem a bande é de rock. trata-se da orquestra itiberê, que se apresenta todas as terças-feiras no inesperado horário de 12h30. tinha tudo pra descambar no folclórico: uma vintena de instrumentistas, quase todos circulando entre os 20-25 anos, regidos por um instrumentista notável, itiberê zwarg, do grupo de hermeto pascoal. mas logo na primeira audição qualquer possível preconceito cai por terra. o show que eu vi, o dessa última terça, incluiu no roteiro somente peças do calendário musical de hermeto pascoal, arranjadas por itiberê – à exceção do dia do aniversário de itiberê, penúltima do set, arranjada pelo próprio hermeto a pedido de seu instrumentista – e algumas originais do próprio itiberê (nenhuma peça do primeiro e único disco da orquestra, duplo, foi tocada). o caminho passa pelo ecletismo esquizo de hermeto: variações ininterruptas de ritmos, em que cabe tudo: erudita contemporânea, regional nordestina, tradição instrumental brasileira, samba, jazz... tudo muito intenso, o grupo passando sempre por territórios raramente (ou jamais) desbravados nestas searas que sempre costumam privilegiar o som bonito porém sem densidade. nada disso aqui: a orquestra itiberê não tem medo de confundir o ouvinte para maravilhá-lo logo depois. e, não custa dizer, a orquestra (em todo caso algumas das instrumentistas, uma em especial) é também um colírio para olhos condoídos.
 
domingo, julho 27, 2003
 
são mesmo umas mães
um post rápido simplesmente para dizer a beleza que é univers zen ou de zéro à zéro, do acid mothers temple. aqui, exit o minimalismo do mantra e entra com tudo a parede de guitarra psicodélica e um vocal declamatório tipo "white rabbit" do jefferson airplane. foi a festa de um sábado sem muita coisa pra fazer. "soleil de cristal et lune d'argent", com seus 20 minutos oníricos, é um ótimo começo para quem quer entrar na onda desses japoneses bacanas e insanos.
 
 
como assim ninguém conhece?
pois é. recebemos nesse mundo todas as informações que precisamos e que não precisamos sobre a vida dos irmãos gallagher, sobre a nova sensação do britpop, sobre a reunião de três compositores superestimados com o mesmo prenome. todo mundo fala que oasis copia beatles, mas por que ninguém menciona o fato de que o blur não consegue afastar-se mais do que os irmãos monocelha de seus inspiradores, só que nesse caso trata-se dos kinks, uma banda menos batida? e por que, injustiça das injustiças, não avisam a todos os fãs de pulp e do jarvis cocker que existe scott walker, em grande parte o deflagrador de tudo aquilo que hoje pode ser chamado de pop barroco, orquestrações exageradas, vocal de crooner desencantado dosado com charme e elegância. quem quiser que experimente. as versões de jacques brel que ele converte para o inglês são todas maravilhosas: "next", "the girls and the dogs", "mathilde", "my death" (o próprio bowie dá seu aval tocando ela ao vivo há uns 25 anos), "amsterdam", "jackie", "montague terrace (in blue)". mesmo que sejam seus melhores momentos, não convém esquecer de músicas de outras proveniências, como "best of both worlds", "plastic palace people", "the girls from the streets", "lady came from baltimore"...
 
 
para não ver as meninas
o filme do paulinho da viola? qualquer um que gosta de música, que se preocupa com música, deve ir assistir. É bom? não é grande coisa, assim, na lata. muita coisa não funciona: grande parte das canções é rodada num estúdio metido a besta, umas paredes cenográficas vermelhas que tiram toda a naturalidade do momento musical. das participações especiais, a única que de fato se cristaliza na tela é a de zeca pagodinho. ok, marisa monte faz uma bela rendição de "a dança da solidão", como já tinha feito antes, mas a outra que ela canta ("alvorada" do cartola se não me engano) não acrescenta nada. a marina, escalada – supõe-se – por ter cantado paulinho em seu acústico, sai-se pior, dando um tom de dramaticidade que combina mal com a discrição e a concisão do canto e do violão do autor (a música é "para um amor no recife"). mas o filme tem momentos que vale qualquer coisa. o principal é a rendição de "sinal fechado", cantada com uma inspiração fora do comum. os momentos de roda de samba com a velha guarda, o peixe da tia surica, tudo isso é muito muito bonito. tem outros momentos que estragam, mas isso a gente deixa pra lá. crítica de cinema a gente escreve em outro lugar...
ah, uma informação importante: no filme não toca "para ver as meninas". para quem acha essa a mais bonita do paulinho, como eu, o aviso tá dado. mas "coisas do mundo minha nega" e "foi um rio que passou em minha vida" tocam. paulinho contando a história de como essa música foi criada e cantada na avenida é coisa fina, fina.
 
sábado, julho 26, 2003
 
détruire, dit-elle
há momentos em que a gente não consegue deixar de defender a idéia de que há um verdadeiro complô nos impedindo de conhecer as coisas mais interessantes lançadas no terreno das artes. ninguém fala do disco novo do hermeto, ninguém nunca lembra que o jards é o autor de aprender a nadar, um dos maiores discos já lançados no brasil (e, logo, no mundo), ninguém fala de rogério sganzerla, ozualdo candeias ou jairo ferreira a não ser para difamar.
um dos recentes alvos dessa indústria de desinformação (eu me recuso a acreditar que todos são burros, mesmo com todas as evidências contra) é tutano, disco mais recente de walter franco. no cd não vem a indicação do ano, mas provavelmente é de 2001 ou 2002. talvez, quando o disco estivesse sendo lançado, estavam fazendo matérias sobre alguns factóides musicais, como o renascimento do (ugh!) swing carioca de zona sul com monobloco e seu jorge. venenos à parte, eu mesmo não esperava muita coisa do disco. quando comprei, admito que ia uma certa dose de complacência, completar a coleção, essas coisas. em parte, lógico, porque não houve nenhum estardalhaço em cima. mas também porque vela aberta, apesar de ser um disco bem bacana, trilhava por um caminho mais conhecido, o rock de arranjos mais básicos, e uma guitarra que às vezes me incomodava.
primeiro pensamento ao ouvir: o walter franco consegue de forma fácil e simples aquilo que a adriana calcanhoto pena pra realizar e não chega lá: é ao mesmo tempo um misto de experimentação e sofisticação no arranjo com simplicidade e delicadeza que realmente impressiona. como o walter franco consegue passar do murmúrio ao grito cheio é impressionante. o começo do disco é arrebatador: "nasça" (de arnaldo antunes), "quem puxa aos seus não degenera", "tutano" (com anvil fx no teclado) e sobretudo a soberba "na ponta da língua" estabelecem um padrão difícil de manter. há uma escorregadela ou outra ("gema do novo"), mas só se comparado ao padrão incial. o disco é inteiro interessante e instigante, variado nos arranjos e contendo belas letras-haikais do walter franco, como de costume.
a gravadora é a yb. avise aos amigos: walter franco ainda hoje ocupa um papel de destaque forte dentro do painel da música brasileira mais interessante...
 
sexta-feira, julho 25, 2003
 
aviso
nesses últimos dez dias comprei disco pra dedéu, deve chegar perto de uma cinqüentena juntando vinil e cd (por sorte, tudo muito baratinho, senão eu ia à bancarrota). de raridades do martinho da vila (primeiro disco) a stockhausen, brian eno/david byrne às ballads do coltrane, 9 da elis regina ao songs in the key of life do stevie wonder com direito a livrão e compacto, vai dar pra fazer a festa por um bom tempo.
bom, mas esta mensagem aqui é para avisar que no rio de janeiro as lojas americanas estão fazendo mais uma big promoção de R$9,90 com as obras quase completas de caetano veloso, elis regina e zeca pagodinho, além de uma infinidade de outros títulos, alguns interessantes, outros não. muda de loja a loja, eu sei, mas a filial da rua do passeio, onde eu levei os tais nove da elis, além de um do belchior (alucinação) e outro do jackson do pandeiro.
em são paulo, a dica é visitar a loja do sérgio, amigo e visitador deste blog. a loja se chama jardim elétrico e fica na galeria shopping flórida, na rua augusta, uma ou duas quadras abaixo do cinesesc. eles estão se mudando pra galeria do rock, e isso deve encarecer um pouco os preços, então tá valendo dar uma visitada urgente lá. não sei se isso é comum nas melhores lojas de são paulo, mas a disparidade com o rio é absurda: cds do goldfrapp a R$12, leonard cohen a R$10, white stripes novo a R$15, uma banca inteira de promoções circulando por esses preços. além de uma lista selecionada de importados (op8, clan ox xymox, the jam), a loja ganhou recentemente uma coleção em vinil do king crimson – com preços não muito amigos, uma pena, se não eu levava o red – e tem no geral vinis muito interessantes, sempre vendidos a preços mais baratos do que nos lugares especializados que trabalham com esse tipo de mercadoria em sp.
bem, tá dado o recado. mais tarde volto com mais comentários sobre música.
 
 
abril, 9 módulos
tive contato com o nome yoshihiro hanno pela primeira vez através de compositor de trilhas sonoras. é dele o majestoso trabalho feito para o filme as flores de xangai (do hou hsiao-hsien) e, posteriormente, descobri que ele é também um compositor que circula pelo meio eletrônico-experimental um pouco à maneira de grupos como oval e microstoria. baixei (foi bem difícil) diversos discos, entre eles a trilha sonora de plataforma, belo filme do jia zhang-ke (curiosamente, o yoshihiro hanno é japonês, mas só fez trilha para um filme da china continental e outro de taiwan). mas os discos que realmente me fizeram vibrar foram april e 9 modules. são dois discos com propósitos muito diferentes, mas igualmente muito ricos em experimentações.
o 9 modules eu comento melhor posteriormente, mas o que mais me interessa no disco é ir trabalhando célula a célula – tanto melódica como rítmica – aquilo que, de um começo calmo e contemplativo, acaba transformando-se numa rica faixa dançante que lembra um pouco os primeiros discos do autechre.
o april eu já tinha ouvido bem, mas não tinha reparado em todas as coisas que me interessavam ainda. pois digo agora: é um grande, grande disco. 5 faixas, a maioria flutuando entre os dez minutos de duração. a exceção é "compass", circulando em torno dos três minutos mas que serve perfeitamente como introdução ao trabalho do hanno: utilização do ruídio para a confecção de loops, manipulação de "sujeiras" saídas de um aparelho de cd (no disco tem "puladas" de cd, pequenos estalos, sons de rewinds e forwards...). "on*off" começa o disco muito bem, mantém-se elaborando o loop por uns bons 5 minutos e daí pára, instaura-se uma espécie de caos branco (pequenos barulhinhos espaçados) para depois retornar em outro movimento sem muita relação com o primeiro. "lab suite", toda construída com timbres etéreis de vocais femininos dobrados, triplicados, decuplicados, que entretanto nunca conseguimos saber de onde vêm exatamente – certamente foram retrabalhados no computador e "picotados" à maneira dos ruídos –, ao mesmo tempo que dá continuidade à proposta, consegue inteira personalidade dentro do disco. "trupezoid" é a faixa que menos me apetece, talvez porque eu não goste dos timbres utilizados. a última, "a short break", é uma levada de violão bastante bonita, também trabalhada em computador, também construída em loop. À medida que o tempo passa, vão entrando em jogo alguns blips eletrônicos que fazem com que a faixa lembre um pouco a peça "eureka" do jim o'rourke. o que, há de convir, é uma excelente lembrança.
 
domingo, julho 20, 2003
 
ainda na trilha dos 70...
enquanto meio mundo se vê fascinado por coisas que não me passam pela goela, como badly drawn boy e ben kweller, eis que me pego ouvindo um disco muito mais rico, na mesma tradição dos singers/songwriters com tendência pop. Dizem que, além desses que eu citei, rufus wainright e robbie williams vêm representando o gênero com afinco. mesmo tendo ouvido um par de canções de cada um dos dois, i beg to differ. pelo menos até agora. a prova? goodbye yellow brick road do elton john. ok, tenho medo que essa incursão pelos artistas dos anos 70 que se tornaram detestáveis nos 80 (ser massacrado com o lixo de "sacrifice" aos 15 anos de fato não é uma forma nada boa de ter uma opinião isenta sobre o resto da obra do elton john) me leve a vibrar com coisas como greg lake, mas ainda continuo confiando mais no meu ouvido do que na recepção que vejo as coisas ganharem – o que ainda me faz acreditar que o drukqs é talvez o melhor disco do aphex twin, que todo esse afã de electroclash é uma fraude que não renderá nada à música, que coisa como boards of canada (até agora, ao menos) e weezer jamais tiveram muita coisa a acrescentar ao cenário musical, etc.
o que me levou a esse disco do elton john, alguns meses depois de tê-lo comprado, foi a faixa título: "goodbye yellow brick road". melodramática, sentimentos extravasados, falsetes, tudo aquilo que a sensibilidade rock contemporânea associaria a cafonice. se você está pensando nisso, pense de novo. reconsidere. a despeito de ter sido relegada aos playlists das rádios soft, a canção é incrivelmente bem-arranjada, e sempre que se volta a ela se ouve alguma coisa que não estava muito óbvia antes – o que talvez seja o que faz a permanência das coisas mais interessantes, a capacidade de sempre voltar a elas e receber acréscimo de beleza.
o disco todo é muito bom, com destaque para todo o lado a: "funeral for a friend/love lies bleeding" é uma peça progressiva-pop que sustenta as ambições ao mesmo tempo que joga seu devido açúcar para prender os ouvidos menos atentos; "candle in the wind", regravada como canção-tributo à insuportável lady di (é originalmente para marilyn monroe), é outro momento muito forte. o disco 2 não sustenta a força do disco 1, mas também não renega o que tinha se ouvido antes. nunca tinha levado o elton john tão a sério assim. dessa fase, tenho além desse apenas o madman across the water... dá vontade de baixar ao menos uns outros três...
 
sexta-feira, julho 18, 2003
 
dois dos grandes discos de 2003
como meu joelho deu novos sinais de que não atura viver sem ligamento cruzado anterior por muito tempo, fui a uma consulta na barra. a parte biográfica termina aqui: aproveitei e levei comigo dois dos discos mais estimulantes lançados esse ano. o primeiro, o que eu ouvi na ida enquanto um nada aprazível 225 me levava, foi o rounds do four tet. e eu não consigo achar palavras pra dizer a evolução que é esse disco comparado ao pause, outro belo disco, mas que não entra em terreno muito novo. no rounds, o kieran hebden (nome do artista solo que faz o four tet) consegue tornar todo o caldo de sua música mais denso, adicionando à fórmula "batidas quebradas porém simples + melodias ingênuas saídas de violão, piano ou harpa" uma profusão de ritmos diferentes, barulho puro, mas acima de tudo uma bateria mais seca e destacada, de hip-hop, que povoa a maioria das faixas. o esmero da produção está lá: não há graves fortes, os sons de cada melodia são improváveis e mesmo assim vibrantes, mas ainda assim é altamente improvável que alguém utilize uma música do four tet pra fazer alguém dançar numa pista de dança. se alguém ainda duvidava, rounds coloca o four tet na primeira divisão da música eletrônica não dançante, no patamar de aphex twin ou autechre (mesmo que não tenha realizado nenhuma evolução no gênero como seus colegas) e absolutamente mais interessantes do que boards of canada ou plaid, pra citar dois. na volta, o cd do diskman foi one word extinguisher do prefuse 73. assinado scott herren, que também lança discos como delarosa & asora e savath & savalas, o prefuse 73 lança seu segundo disco após o inovador (e espetacular) vocal studies and uprock narratives, pedra inaugural das pesquisas em eletrônica aplicadas agora ao hip-hop. one word extinguisher, pra dizer pouco, é uma honrosa continuação das pesquisas do scott herren. ok, nenhum dos dois discos consegue manter sua força até o final, todos os dois dão um certo sentimento de que em algum momento existe mais do mesmo sendo elaborado e transmitido a nós. mas nossa, que disco! o começo é matador, quatro faixas pequenas e direto ao ponto culminando em "the color of tempo", talvez a melhor do disco. o lance do prefuse 73 é criar batidas de andamento complexo (porém não completamente indançáveis), algumas melodias simples saídas de computador e colagens do universo do hip-hop (desde as vozes de rappers até certas palavras-de-ordem tornadas clichês do gênero), com algumas participações especiais (já trabalhou com mr. lif, aesop rock e dose one, entre outros). um destaque especial é a canção que dá nome ao disco, "one word extinguisher", mas toda faixa tem seu toque especial. mesmo algo redudante, é um disco para ser baixado e ouvido inteiro. aproveitando, dá pra botar como bônus o belo remix que o scott herren fez para "night light" da miho hatori. acho que ainda dá pra falar por horas desses dois discos... mas pra depois...
 
 
ouvinte
pois é, nunca ouvi absolutamente nada do howe gelb, solo ou nas participações com artistas de alguma fama na cena de folk art, alt country como OP8, lisa germano ou calexico (com quem ele fez o projeto giant sand). mas the listener, o álbum que o cantor e compositor acaba de lançar pela thrill jockey, dá muita vontade de conhecer mais coisa dele. começa com a instrumental "glisten", melodia de piano numa levada western sóbria e lenta. só começando. "felonious" cita lou reed direto na letra, logo nos primeiros versos, mas é na forma de cantar que howe home (como está na capa do disco) mais parece com o cantor – tanto no timbre como na maneira "falada" de cantar –, sobretudo a fase magic & loss ou a canção "coney island baby". "torque (tango de la tongue)" adiciona uma levada de piano latina – apesar do nome "tango" na música parece que estamos em cuba – enquanto uma cantora dinamarquesa, henrietta sennenvaldt, faz com ele um memorável dueto (os fãs de michael stipe com patti smith em "e-bow the letter" ou tindersticks com carla torgeson em "traveling light" devem baixar essa música imediatamente). entre os destaques, ainda a lembrar de "cowboy boots" e "blood orange", outro dueto com cantora nórdica, dessa vez marie frank.
eu devia ter dito isso antes, mas só veio à mente agora: o disco foi gravado na dinamarca com acompanhamento da banda unden byen (a banda em que canta henrietta sennenvaldt). the listener tem uma unidade sonora que é difícil de achar nos discos do gênero, e a sensação que nenhuma música está lá para encher lingüiça, uma sensação constante em vários discos que se ouve hoje. se você algum dia já ficou curioso sobre como lou reed se sairia se tentasse refazer, sei lá, o harvest do neil young, the listener é uma boa tentativa de aproximação. tá bom, né?
 
terça-feira, julho 15, 2003
 
one more cup of coffee
só umazinha pequena para não deixar esse blog órfão de coisas novas por muito tempo.
um adendo à primeira listinha de músicas feras no ano: keziah jones, "wet questions"; m83, "unrecorded"; broadcast, "before we begin"; audio bullys, "way too long".
próximo disco a ser comentado: a belezura que é the listener, do howe gelb. poucas referências sobre ele, além do fato de ter feito com o calexico o projeto giant sand, que eu nunca ouvi. o disco, lançado bem recentemente, é rock sombrio e lento, braços abertos para fãs de lou reed, nick cave e johnny cash. mais tarde comento.
 
 
perrengue the dj
semana que vem, na segunda-feira, vou botar sons na mítica festa a maldita, capitaneada por zé e gordinho, colegas de faculdade e amigos do coração. o blog da festa é http://amaldita.blogspot.com, desse mesmo gentil provedor de web-logs. eles pediram para que eu escrevesse alguma coisa para lá, em que falasse alguma coisa da festa. o que eu escrevi foi isso, e serve também pra vocês caso vocês queiram uma noite bacana se divertindo pra caramba dançando coisa boa e esquisita:
oi, sou um dos “djs da contracampo” (!?) e estaremos arrendando a pista 2 da maldita na próxima segunda feira. gordinho pediu pra gente escrever alguma coisa pro blog, fazer uma publicidade, o que gentilmente aqui faço, do jeito distorcido e desajeitado que me é próprio. a festa vai ser fera. a primeira música que eu vou tocar é famous blue raincoat it's four in the morning, the end of lali puna tocando slowdive december i'm writing you now just m83 to see if you're better new york yeah yeah yeahs is cold, but i like where i'm living the rapture there's music on clinton street all through los hermanos the evening. i hear prefuse 73 that you're building your little house mr. catra deep in the desert you're the clash living for nothing now, i hope you're keeping postal service some kind of radiohead record. yes, and jane came by with a roberto carlos lock of your hair she said that you gave it to her that night that pixies you planned to go clear did you ever go clear? ah, the last time we 50 cent saw you you looked so much older your famous blue buck 65 raincoat was torn at the shoulder you'd been to the station to 3rd bass meet every train and you came home white stripes without lili marlene and you treated my the zombies woman to a flake of your life and tricky when she came back she was nobody's broadcast wife. well i see you there with the strokes rose in your teeth one more thin sonic youth gypsy thief well i see jane's awake -- she sends her ms. dynamite regards. and what can i tell you my brother, my killer the kills what can i possibly catherine deneuve & françoise dorléac say? i guess that i miss you, i guess velvet underground i forgive you i'm glad you stood in my ella fitzgerald way. if you ever come by here, for the beatles jane or for me your enemy is joy division sleeping, and his woman is stereolab free. yes, and thanks, for the trouble you took chico buarque from her eyes i thought it was there for good so i never geraldo pereira tried. and jane came by with a lock of rolling stones your hair she said that you gave it to her that lee hazlewood & nancy sinatra night that you planned to go clear -- sincerely, r. gard e. valiant lc. olivieri jr. l. cohen
 
domingo, julho 13, 2003
 
algumas das melhores canções de 2003
tá muito cedo ainda, né? mas uma listinha sempre ajuda a modular os gostos e servir como referência do que eu tenho escutado nesses meses, então tá valendo. "she moves she" do four tet, "xylophone" do asa chang & junray, "in da club" do 50 cent, "square track 10" do buck 65 (o disco é composto de 4 faixas sem título, mas na internet tem uma versão que quebra de faixa pra faixa... a faixa a que eu estou querendo me referir é uma sobre uma festa fedorenta em que os apetites sexuais estão acirrados, a antípoda da letra do 50 cent), "one word extinguisher" do prefuse 73, "cachorro / vende o x9 pra mim", mr. catra, "seven nation army", white stripes. deve ter mais, mas eu estou esquecendo e além do mais tenho que sair.
gudibái.
 
sábado, julho 12, 2003
 
só cinqüenta centavos?
primeiras impressões sobre a audição do disco do 50 cent, get rich or die tryin': algumas coisas pra encher lingüiça, quase tudo para tirar onda, evolui muito pouco o repertório do gênero, mas quer saber? "in da club" é um clássico imediato, a participação do eminem é bem bacana ("patiently waiting" e "don't push me") e "p.i.m.p." é uma beleza, uma produção meio chicana com ritmo bem suingado e o 50 mandando paca no vocal. tudo bem que eu continuo achando o underground hip-hop mais interessante do que o mainstream, mas o disco do 50 cent tá ganhando com corpos de distância de outros discos bacanas no estilo, como os do rza ou o do gza. pensei que ia ouvir só por desencargo de consciência, mas acredito que o 50 cent vai voltar logo logo pro meu aparelho de som...
 
 
o louco lib
vou aqui pagar uma de minhas dí­vidas e falar do madlib, produtor de mil olhos e projetos. eu sinceramente nunca tinha ouvido falar dele até ler no pitchfork uma seleção de discos que o kieran hebden (aka four tet, responsável por rounds, um dos mais belos discos do ano) tava ouvindo, e ele falou benzaço do madlib. o disco do qual ele falou foi madlib and jay-dee are jaylib, um projeto, como o próprio nome indica, com o jay-dee, antigo produtor do tribe called quest. aí fui vendo as coisas que o cara fez e ainda faz: dois discos de compilar e mixar acervo de gravadoras (nada menos do que a blue note e a trojan, clássicas respectivamente do jazz e do dub reggae), membro do yesterday's new quintet, ex-produtor do lootpack - dizem que o lootpack fez um grande disco, da antidote, mas eu ainda não baixei -, além de ter lançado um disco como quasimoto, the unseen, um alter ego dele com voz acelerada (que tou baixando e depois comento).
os dois discos em que o madlib se debruçou sobre o catálogo das gravadoras para montar um disco mix portfólio, shades of blue (pra blue note) e blunted in the bomb shelter mix (trojan), são aproximações muito diferentes de cada mundo sonoro. enquanto no shades of blue ele faz bases para todas as músicas e vai depois acrescentando as faixas da gravadora, no blunted... o trabalho dele é basicamente mixar pequenos trechos de cada música (raridade alguma das 45 faixas passar de 1:30) um atrás do outro. diz a lenda que ele fez esse mix em uma tarde. especulação ou não, o shades of blue é um disco muito mais trabalhado e coeso, embora os dois sejam altamente audí­veis e interessantes, realizando a contento a função que deveriam servir. o blunted... é especialmente interessante nesse sentido, uma vez que o catálogo da trojan é quase completamente desconhecido pra mim, e tudo que o madlib colocou no disco, de lee perry a king tubby, de u-roy a coisas desconhecidíssimas até para radicais fãs do gênero, é de primeira linha, e compensa em muito a falta de "produção" por parte do madlib.
os dois são altamente recomendáveis como aproximações do universo das gravadoras que propuseram os projetos.
 
 
história musical de noel rosa
é o título do vinil duplo da marilia batista lançado em 1963, rememorando o antigo parceiro. marilia batista foi junto com a aracy de almeida a intérprete mais importante de noel rosa. é responsável por uma das gravações originais mais lindas do noel, "provei". noel tendo morrido em 1937 e marilia tendo casado um pouco mais tarde, a carreira foi passando a segundo plano, e os discos ficando cada vez mais esporádicos.
foi um dos vinis mais caros que eu comprei. o que me deixou bobo mesmo foi a capa e o encarte, que são lindos e muito diferentes da produção gráfica da época. eu não tinha maiores referências sobre o disco, mas 60 composições do noel cantadas por uma de suas fiéis intérpretes parecia suficientemente falar por si só.
hoje, ouvindo e pesquisando, soube que esse disco foi lançado em cd. num dos comentários, o que mais afligia o ouvinte era que o disco fosse organizado em pot-pourris de 5 músicas cada. curioso. pra mim, não atrapalha muito, pelo contrário: dá um certo espírito de coesão, a tudo é muito bem feitinho de forma que não há nenhuma passagem que agrida.
o que mais causa estranhamento é a orquestração da época, muito balancinho bossa demais pra auxílio luxuoso de noel e marilia. não que seja ruim: é bonita, elegante, um trabalho nada negligente em arranjos e nos momentos em que um solinho de flauta tece três ou quatro notas, tudo muito bem escolhido. É que soa muito com o gosto da época (1963) para uma caontora e um compositor da década de 30. A acrescentar, parece que a marilia batista estava um pouco nervosa no começo da gravação (a julgar e supor que a ordem do disco foi a da gravação), e "pra que mentir" parece se ressentir um bocado. depois, a partir do lado b do disco 1, a interpretação dela é primorosa, e o desfile de canções do noel faz o resto: das mais famosas às pouco conhecidas e até obscuras, tudo é costurado bonitinho, e não existe aquela coisa incômoda nos pot-pourris de colocar todas as famosas para o final.
a capa interna do disco é soberba, uma editoração de jornais da época com matérias dando conta da cantora, de noel, da relação dos dois, da orquestração (em tempo: de guerra peixe), além de algumas imagens históricas, como a impagável carteira profissional de músico do noel, seu famoso auto-retrato, uma foto do bando de tangarás e uma foto de família de noel com 7 anos. fera.
 
quinta-feira, julho 10, 2003
 
o caminho para san josé
minha impressão de dionne warwick, como para a maioria das pessoas que ficou adolescente no final dos anos 80, é a de uma cantora decadente se apoiando em baladas melosas. "that's what friends are for" se iguala na minha memória a "um dia de domingo", dueto de gal com tim maia, como aquela coisa desagradável que gruda na cabeça pra nunca mais sair.
mas que felicidade saber que eu tava redondamente enganado e faço esse post pequeno pra dizer que o valley of the dolls dela (claro, quase tudo no disco é "by burt bacarach") é um discaço e por si só já justifica o nome dela entre as grandes da música pop negra como aretha franklin e stevie wonder. lindo. uma pérola tão preciosa quanto bem talhada, ao contrário das coisas sentimentalóides a que estávamos acostumados nos 80...
 
 
templo comunal
a última versão de "in c" de que eu tenho notícia é do acid mothers temple. eu tinha baixado ela há um tempão, do site do rodrigo lucianetti. nunca consegui passar pra cd porque a freqüência não era 44,1MHz mas 48 (aliás, alguém sabe como faço isso? meu nero só grava assim e nem passar pra .wav resolve; se eu passar de alguma forma, vou ter perda sonora?). mas esse grupo gravou em 2001 um disco com a rendição do riley e mais duas outras peças similares, "in e" e "in d" ("em mi" e "em ré"). curioso como faz a passagem da música de tradição clássica para frank zappa e para o krautrock (o próprio nome do grupo [mothers], os nomes dos discos e o desenho das capas volta e meia homenageiam zappa, e o som mais de uma vez lembra os rockeiros germânicos dos anos 70).
não sei se é assim com todo mundo, mas eu não consigo deixar de ficar impressionado com esses "ensembles" de músicos que fazem da música uma experiência comunal, familiar. pensar no sonic youth, no fela kuti (que botava todas as esposas para fazerem backing vocals), nos novos baianos como experiência máxima (comprar um sítio e viver lá como em uma república). o acid mothers temple é semelhante, muito embora também possa ser visto como um coletivo à maneira dos coletivos de hip-hop (um grupo de artistas que partilha certos preceitos semelhantes e se reúne para ganhar mais atenção junto do que sozinho).
o certo é que o acid mothers temple é um dos grupos mais estimulantes no terreno da música improvisada vagando entre rock, noise e experimental. lembra um king crimson regido por terry riley. aliás, prestaram homenagem ao grupo do robert fripp no ep 41st century splendid man. lançaram ano passado o electric heavyland, que eu comento depois porque ainda estou baixando... mas o que já ouvi só aumenta a vontade de conhecer tudo o que for possível do grupo.
 
 
em dó
passei boa parte do dia de ontem ouvindo essa peça "in c" do terry riley. sinceramente não sei qual a gravação, porque o mp3 não veio com identificação. em todo caso, o trabalho é excepcional. 53 pequenos fragmentos melódicos que devem ser tocados em ordem mas com duração, o número de vezes que o tema será repetido e instrumentação a cargo dos músicos (que instrumento toca que fragmento, etc.), e um instrumento (na "minha" versão é um vibrafone, mas pode ser um piano preparado) organiza ritmicamente um pulso repetitivo. "in c" foi composta em 1964, o que faz dela a primeira peça minimalista. só que mais do que iniciar a febre minimalista, as invenções sonoras do terry riley foram decisivas para muito além do mundo da música clássica experimental. não dá pra ouvir uma das composições do riley e pensar em como grupos como cluster, faust, can ou tangerine dream chegaram a soluções semelhantes no terreno do rock (se bem que seja no sentido lato da palavra).
"in c": a reunião de ordem e caos, uma certa direção dada pelo compositor e liberdade na execução para o músico. um mantra e ao mesmo tempo uma composição com padrões identificáveis e fruíveis "à maneira antiga", ou seja, acessíveis a quem tem um ouvido clássico. é mais ou menos como se max ernst tivesse feito a mona lisa.
 
terça-feira, julho 08, 2003
 
hoje assisti a uma obra-prima intitulada CROSSROADS, dirigida por bruce conner. ok, isso não é um blog sobre cinema, vocês vão dizer. só que lá pelos dez minutos de filme começa a tocar uma música inacreditavelmente foda, levada no órgão. o filme é de 1975, e na época só um cara fazia coisas semelhantes: terry riley. daí nos créditos fico estupefato quando aparece music by patrick gleezon, um cara que eu nunca ouvi falar. ainda olhando bobo pra tela, surge o complemento: music by terry riley. então tá. a música é original para o filme, e a triste nota é saber que nunca – pelo menos até onde eu pude pesquisar – esse trabalho foi lançado em cd. além da música ser fenomenal, é um dos raros casos no cinema em que som e imagem combinam tão espetacularmente a ponto de não parecer poder haver um sem o outro. (um exemplo disso seria NOITE E NEBLINA do alain resnais). o consolo é saber que terry riley anda produtivo como poucos, e ano passado lançou junto com o kronos quartet o disco requiem for adam. o pessoal de são paulo fique atento ao filme, porque a mostra movimentos improváveis vai pra são paulo. vejam bruce conner e ouçam terry riley, é incrível.
 
 
vamos às bandas sem baixo porque o post mais importante do dia vem depois.
simples assim: eu acho bacanas os discos de estréia dos yeah yeah yeahs e dos kills, e o disco novo do white stripes. não são nada antológicos pra mim, mas carregam uma força que eu não vejo faz tempo nos convencionais college rock americano (ou indie, bandas influenciadas por velvet underground e/ou r.e.m. em alguma medida) e no britpop, dois gêneros que hoje simplesmente não têm muito mais a acrescentar.
o que me interessa nessas bandas é que tendo apenas voz, guitarra e bateria para trabalhar, eles se esforçam muito em arranjar uma nova forma de tocar, encontrar timbres menos óbvios, estruturar as canções de forma diferente... e óbvio, tem essa crueza que nos evoca stooges, velvet, patti smith, pj harvey...
o keep on your mean side do kills é interessante na medida em que é um disco pouco ambicioso mas também não muito interessado em fazer hits. a única música pronta pra engordar os bolsos dos artistas é "cat claw", de longe a coisa mais desinteressante do disco (lembra a pj fazendo música pra single). mas "black rooster" e acima de tudo "fuck the people" têm uma força grande.
o yeah yeah yeahs entra em boa parte no argumento do kills, com a diferença que as músicas são bem mais agitadas e a confusão sônica é maior (talvez porque a karen, vocalista do yyy, o grite mais). É difícil não gostar de um disco que tem a guitarreira swingada de "date with the night" logo na segunda faixa. o disco não mantém o pique o tempo inteiro, mas manda bem.
elephant dos white stripes é um disco de um patamar um pouco acima. confesso que inicialmente achei o disco meio chato, começava bem mas depois se perdia chutando pra tudo que é lugar. a impressão não se desfez totalmente, mas ouvindo melhor deu pra perceber as sutilezas do trabalho de guitarra & voz do jack white (é jack mesmo, né?), pegar o senso de humor necessário pra gostar da musiquinha sobre família do fim do disco, me acostumar com umas músicas mais intimistas... bom, "seven nation army" é um clássico isntantâneo, e a versão de "i just don't know what to do with myself" é bem bem bonita. ainda tou longe de achar obra-prima, muito longe. em todo caso...
enfim, três discos de rock rasgado que vale a pena ouvir. É raro nesses dias e, portanto, digno de nota.
 
 
fui incumbido de fazer uma coletânea de 80 minutos do leonard cohen. depois de refletir muito ando pensando em colocar basicamente o material do songs of leonard cohen e songs of love and hate e adicionar além disso apenas uma ou outra. e aí, amigos, concordam ou me demovem da idéia?
pra agitar e ver quanta gente anda lendo o blog: qual o top 5 do leonard cohen pra vocês? mando o meu: "dress rehearsal rag", "famous blue raincoat", "suzanne", "so long marianne" e "teachers" (se bem que podia entrar "master song", "bird on a wire" ou "the stranger song" tranqüilamente)
 
domingo, julho 06, 2003
 
o próximo post, em homenagem ao meu amigo sérgio alpendre, será sobre essas novas bandas de garagem que não curtem baixo, kills, white stripes e yeah yeah yeahs (esse tem baixo? vou pesquisar antes do post...
mas esse é só pra dizer que o primeiro disco do mercury rev é fenomenal... os dois últimos discos são lindos, mais orientados pra canções, arranjos bacarachianos, mas o yerself is steam continua sendo aquele que consegue congregar mais coisa conflitante e transformar num todo ao mesmo tempo coeso e denso...
"frittering" é a síntese perfeita entre o pink floyd da fase meddle e, digamos, sonic youth ou dinosaur jr. "chasing a bee" tem uma parede de ruído que todo mundo na época achou derivativo de lee ranaldo e thurston moore, mas tem uma aplicação bem diferente, eles tentam criar outros climas. e soam bem mais afiados do que o flaming lips, uma banda que tem uma trajetória semelhante, uma carreira coerente mas eu nunca ouvi um disco deles que não tivesse me deixado cansado e achando que eu ouvi demais da mesma coisa (ok, vou levar porrada...). isso não impede a banda de ter grandes canções, claro. "very sleepy rivers", que fecha o yerself, é um delírio de uma melodia de guitarra e uma frase (a do título da música) que são repetidas à exaustão... louca mas climática. eu acho que votartia fácil nesse disco como um dos 10 melhores discos de rock americano dos anos 90. o bônus ainda é o primeiro single da banda, "car wash hair", que é fenomenal.
tou baixando o disco lego my ego, que veio – diz-se – promocionalmente junto com alguma prensagem do primeiro disco, contendo versões ao vivo e alternativas das músicas do yerself... a versão de "very sleepy rivers" chama-se "shhh peaceful", em referência à faixa do disco in a silent way do miles davis, em minha opinião o maior disco de jazz de todos os tempos.
 
 
até que enfim!!
"uma confissão: por muito tempo, nunca vibrei realmente com o radiohead. meu amor pelo grupo veio retrospectivamente e tardiamente, sobretudo com os gêmeos kid a e amnesiac." joseph ghosn, les inrockuptibles.
caraca, até que enfim alguém que só começou a se interessar pelo grupo a partir do kid a... pensei que era só maluquice minha...
(em tempo, essa é a edição 393 da revista, capa do thom yorke e entrevista.)
 
 
se no hypeado mundo indie houvesse justiça e/ou atenção a boa música, as pessoas não estariam babando pra peaches, essa coisa chata e no máximo boa piadista (a da chryssie be-hynde é boa...). estariam ouvindo missy elliott e ms. dynamite. tenho dito.
 
sábado, julho 05, 2003
 
lexoleum
uma coisa leva à outra e o quê? aqui estamos nós de novo com o boom bip. ele não faz parte de nenhum coletivo, mas tem uma gravadora pra lançar o que quer. e lançou ainda agora uma compilação matadora, antológica, concorrente a melhor coletânea de hip-hop do ano (mesmo que a anticon lance outro anticon giga single ou a def jux um vol.3)
lexoleum é o nome, e o disco junta tanto os nomes da gravadora (boom bip, o rapper tes, disflex6, danger mouse) quanto alguns nomes amigos (os anticonianos why? e sage francis)
o começo é matador: "u r here", do próprio boom bip, abre com uma instrumental primorosa, pronta a fascinar os fãs de dj shadow e rjd2; depois, "big shots" do tes prepara os ouvintes para o belo disco que o rapper acaba de lançar, x2 (comento mais tarde). base excelente, timbre que lembra dose one mas com personalidade muito própria (e, apesar do timbre agudo, não joga com o lúdico como o dose). depois, "the toy chest" do mummy fortuna's theater company, grande revelação do disco, uma série de rappers mandando coisas insanas um atrás do outro. a base é uma bateria quebrando toda (não em loop, tocada mesmo), com uns leves toques de sintetizador e notas de violão. bonito pra dedéu. o disco ainda conta com uma faixa do madlib ("untitled", uma da peaches com mignon ("casanova"), subtle ("eneby kurs") e alguns desconhecidos pra mim.
altamente baixável.
e chega por hoje.
discos que eu pretendo comentar logo:
spring heel jack (com matthew shipp & banda + j. spacemen) - live
hermeto pascoal e grupo - mundo verde esperança
dj shadow - diminishing returns e preemptive strike
madlib - shades of blue e blunted in the bomb shelter mix
 
 
dose one
todo o post anterior pra quê? pra dizer que o dose one é a grande esperança do hip-hop hoje. ok, tem o sage francis, o cara que fez um dos discos mais bonitos dos últimos anos, personal journals, com raps introspectivos, quase uma agenda da vida dele, e criou duas pérolas atemporais ("message sent" e "inherited scars"). tem o buck 65, com uma proposta semelhante ao sage francis, que fez com o square o disco mais bacana de hip-hop que eu ouvi esse ano. além disso, tem o sole, o odd nosdam e o why?, que lançaram discos recentemente e merecem mais atenção do que eu dei ouvindo os discos.
mas por que então minha predileção idiossincrática pelo dose one?
não é certamente pelo bobo hemispheres, que ele lançou em 1998, mas pelo espetacular circle, lançado quase anonimamente em 2000, um ano antes do cLOUDDEAD, mas já contendo tudo que existe de revolucionário no disco do grupo. feito em parceria com o excelente produtor boom bip, circle tem 29 faixas, 70 minutos, e uma constante impressão de que não se sabe o que está acontecendo, tamanho o grau de esquizofrenia do disco. experimentação é a palavra do dia, mas engana-se quem acha que não dá pra fazer isso com gosto para o ouvinte. o disco é lúdico, por vezes a gente fica esbaforido tanto com o fôlego quanto com a criatividade do dose em frasear, e a produção do boom bip é muito boa, indo de uma rumba para o miami bass com a maior facilidade.
o disco foi relançado em 2002 e eu coloquei como um dos melhores do ano. posteriormente, eu achei que coloquei porque não podia colocar o cLOUDDEAD. daí perdi o disco no case de curitiba e tive que fazer outro cd (pelo menos eu tinha a cópia em mp3 aqui). tou ouvindo direto e não cansa. discaço.
 
 
anticon
é o nome do coletivo mais importante no que diz respeito à evolução do hip-hop hoje. o outro grande selo do assim chamado underground hip-hop é o def jux (ou definitive juxtaposition), um coletivo de artistas notáveis que merecem posts próprios (rjd2, cannibal ox, el-p, aesop rock), mas cuja maior novidade, ao menos até agora, consiste em uma preocupação maior com as bases das faixas, e uma sujeira densa de background (cortesia de el-p) que talvez seja a maior contribuição do selo pra história do hip-hop (até agora, novamente).
mas a anticon leva a coisa mais longe. por quê? porque a maioria de seus mc's e dj's (alguns cumprem as duas funções ao mesmo tempo) não se limita a cantar sobre batidas convencionais, realizam parcerias ou criam conjuntos apenas para um disco ("projetos" seria a melhor definição), e acompanhar os lançamentos do selo é quase tão esquizofrênico quanto ouvir os discos. ao menos um desses projetos já entrou pra história (ao menos é a sensação quando se ouve, de tão absurdamente inaudito e inesperado que o disco é): cLOUDDEAD. Trata-se de um trio de mc's formado por dose one, why? e odd nosdam, uma série de 6 compactos de dez polegadas depois compilados num único cd e com convidados diferentes a cada duas faixas (ou seja, a cada compacto). nesse disco, cabe tudo desde que não seja rappers cantando sobre uma batida de bateria eletrônica convencional. apesar de cada faixa ter aproximadamente 6 minutos e meio, dificilmente alguma batida permanece por mais de 1 minuto, sendo substituída por outra coisa (geralmente ruídos de fundo, diálogos, vozes desconexas, ou mesmo outras batidas que se acavalam), se o 3ft high and rising do de la soul é o sgt pepper's do hip-hop, o cLOUDDEAD é certamente o freak out.
 
 
vi shows
é esse o título-trocadilho inventado por arnaldo brandão para coverizar "vicious", a canção que abre o transformer do lou reed.
mas só aqui pra lembrar que o melhor show do ano passado foi do próprio paulinho da viola, no joão caetano, uma coisa memorável de leveza e força, melancolia elegante e firme.
e outro show, esse memorável por outras razões, na praia de botafogo, que reuniu juntos no mesmo palco gilberto gil, paulinho da viola e marisa monte para uma bela rendição de "a dança da solidão". como se sabe, hoje, paulinho e gil não se falam graças aos desentendimentos acerca dos cachês do réveillon 1996.
quem viu, viu
 
 
bom, inicio aqui uma série de posts sobre hip-hop contemporâneo
mas antes devo dizer que estou ouvindo uma das coisas mais fodas que já foi feita em música: paulinho da viola do começo da década de 70. regra geral é que memórias 1: cantando é seu melhor disco. eu faço questão de divergir. o primeiro disco de 1971 (tem 2), ele sentado com seu violão, epônimo, é supremo: começa com "num samba curto", coisa das mais belas, calma, e que curiosamente tem umas quebradas de ritmo que não faria feio aos eletrônicos da warp (aphex twin, autechre). o disco continua calminho com "pressentimento" e culmina na terceira e melhor faixa, talvez a mais bonita da carreira inteira do paulinho: "para ver as meninas". pouco? ainda tem "filosofia do samba", do candeia, outro portelense; "reclamação", música de protesto conclamando os descontentes do regime a terem paciência porque não sofrem sozinhos; e termina com "vinhos finos... cristais", parceria com capinan.
o outro disco de 1971, ele em pé com o cavaquinho em frente a uma casa portelense (porta azul clara e paredes brancas), eu comento depois.
agora tá rolando a dança da solidão, 1972. além de "a dança da solidão", rememorada numa boa versão de marisa monte no disco das cores (o que se não pode dizer de "para ver as meninas", destruída naquele disquinho mequetrefe que ainda inutiliza "cinco minutos" do jorge ben), tem o clássico "no pagode do vavá", e belas rendições de nélson cavaquinho ("duas horas da manhã", suprema, versão definitiva) e cartola ("acontece").
é, esse post foi mesmo sobre paulinho...
 
sexta-feira, julho 04, 2003
 
essa é só pra testar os comentários mesmo, parece que tem que publicar alguma coisa pra fazer efeito, esses lances.
uma audição da madruga foi o primeiro disco do colin blunstone, one year. assim parece difícil, mas o sujeito é o vocalista do zombies, e cantor de pérolas como "care of cell 44", "she's not there" e o hino "time of the season". o disco solo não tem a mesma força de composição, e até o estilo é diferente. curiosamente, lembra muito mais nick drake do que zombies. as músicas não são tão fortes, mas ainda assim one year é um disco bem bacana.
outra audição foi a black session do erlend oye, norueguês eclético que lançou esse ano o belo unrest, em que cada produtor diferente (entre eles o grande prefuse 73, morgan geist ou jolly music) pega uma faixa e faz a base instrumental. nesse ao vivo ele toca boa parte do disco, acompanhado apenas das bases eletrônicas. tecnopop retrô, ok, é verdade, mas o sujeito canta com estilo e as bases são muito boas, direto ao ponto.
 
quinta-feira, julho 03, 2003
 
ok, brinquedinho novo, mór vontade de saber como funciona
mas tem mais alguma coisa pra falar de coisas que tou escutando ultimamente.
uma coisa que baixei há um mês mas só fui ouvir agora foi o disco de estréia de um projeto chamado clue to kalo, come here when you sleepwalk.
o disco passou despercebido pelas fontes "oficiais" da mídia alternativa de língua inglesa, então é bem capaz de você nunca ter ouvido esse nome.
a receita é simples: música eletrônica doce, etérea, delicada, por vezes até correndo o risco de cair na terrível senda do muzak eletrônico. mas não é, simples assim. a sonoridade lembra um tanto os primeiros discos do orb, só que sem os graves de dub, ou a simplicidade das melodias dos selected ambient works 89-92 do aphex twin. uma parte menor do disco é cantada, mas – como acontece com o múm – é a menos interessante, resvalando naqueles vocais sofredores e sem brilho do rock independente americano. mas as faixas instrumentais levam a gente numa trip leve, aerada e bem bacana.
 
 
estou ainda matutando para fazer desse blog algo menos visualmente ameaçador do que está.
mas vamos logo ao primeiro comentário
masada foi uma série de discos lançados pelo john zorn entre 1994 e 1999. mas masada é menos o nome de uma banda do que um songbook de temas de inspiração e nomes judaicos. a formação é primorosa: zorn no saxofone alto, dave douglas no trompete, greg cohen e joey baron (baixo e bateria, respectivamente). da série que vai do 1 até o 9, eu não baixei ou ouvi nenhum ainda. mas dois discos recém-lançados são surpreendentes de bonitos:
– o primeiro é live in sevilla, um ao vivo com nove músicas em que eles vão do jazz tradicional com melodias de big band até os arroubos de sons primais tão famosos que saem do sax do zorn. o allmusic dá como o melhor disco do masada. se não for, é ao menos uma bela introdução. dá vontade de ouvir todo o resto.
– o segundo é masada guitars, um disco assinado john zorn mas que é de fato um disco com 21 das composições do masada interpretadas por três solistas de violão/guitarra de primeira grandeza: marc ribot, bill frisell e tim sparks. os três se revezam faixa a faixa num disco impressionantemente homogêneo para artistas com preocupações e técnicas tão diferentes, mas que soam ao mesmo tempo líricos, densos e virtuosos (não, nenhuma faixa dá aquela sensação de amostra vulgar de velocidade à satriani ou malmsteen, embora por várias vezes tenhamos a sensação de que existem duas guitarras sendo tocadas ao mesmo tempo pois parece impossível um cara manter duas linhas ao mesmo tempo). dois discos pra se guardar debaixo do braço e mostrar pros amigos.
em tempo: tava revendo outro dia encontrando forrester, o belo filme de gus van sant, e descobri que a trilha é do bill frisell. o cara selecionou nada mais nada menos do que a fase mais densa/lírica do miles (a do grupo com hancock e shorter) e a música original também é muito bonita.
 
 
oi
esse é o meu blog
ele serve para quem eu comente as coisas que eu estou ouvindo no momento e, assim, me sinta um pouco menos autista. ou não. sabe-se lá.
 

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ao meu jeito eu vou fazer um samba sobre o infinito /// e eu nem sei que fim levou o meu -- risos /// quanto mais conheço o homem, mais eu gosto do meu cão ///

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