nico é ícone
não sei quantos dos parcos leitores que aqui freqüentam gostam de velvet underground. suspeito que todos. como suspeito que a grande maioria conheça de cabo a rabo os quatro primeiros discos do grupo, todos antológicos e obrigatórios. é de se crer, da mesma forma, que grande parte das pessoas que gostam de velvet underground tenham acompanhado ao menos parte da carreira de lou reed, principal compositor e letrista do grupo. o conhecimento dos discos lançados pelos outros ex-membros do velvet é mais complicado: quase nada lançado no brasil ou facilmente disponível por importação, pouca divulgação, etc. pena. john cale tem belos discos, sozinho ou acompanhado (com terry riley – church of anthrax – ou brian eno – wrong way up).
mas é de nico , a crooner do primeiro disco do velvet (escrevo isso apenas por função fática, presumo), que gostaríamos de falar agora. depois do primeiro disco do velvet, quase simultaneamente, ela lança uma preciosidade chamada chelsea girl. "pop de câmara", alguns podem chamar. "chelsea girls" e a mais conhecida, e talvez seja de fato a mais bonita. mas o disco esconde outras pérolas pop, que o wes anderson, em os excêntricos tenenbaums, espertamente aproveitou e colocou no filme: "these days" e "winter song". "somewhere there's a feather" e "the fairest of the seasons", além de "i'll keep it with mine", de dylan, também figuram lá no alto do panteão pop. "it was a pleasure then", soturna e declamatória, prenuncia o que vem nos discos seguintes.
the marble index, lançado no ano seguinte, e sobretudo desertshore, em 1970, são duas pérolas tão fascinantes quanto desconhecidas. compostos inteira ou quase inteiramente pela própria cantora (o primeiro tinha canções só de outras pessoas, de lou reed a dylan, passando por john cale e jackson browne), produzidos por john cale (em marble cale só arranjou, quem produziu foi frazier mohawk). figura pelo menos uma maravilha absoluta, "janitor of lunacy", canção que abre o disco desertshore. e continua com "afraid", "abschied", "my only child", "all that is my own"... the marble index tem "frozen warnings", "nibelungen", "no one is there". até the end, disco de 1974, tem suas gracinhas, como a cover pra "the end" (sim, aquela dos doors) e "secret side". mas aí já não é mais tão interessante. christa paffgen, nico para os íntimos, passou a primeira gonorréia pra iggy pop, teve filho com alain delon, namorou com jim morrison, teve caso com meio mundo e foi encontrada morta em 1988 numa estrada em ibiza. ficou pra história como uma porra louca que teve uns caras muito bons ao seu redor. a evidência de "janitor of lunacy", no entanto, joga nico lá no alto da sensibilidade musical. grande dama.  ¶ 9:00 PM |