na brincadeira de fazer listinhas de final de ano, sempre tem uns disquinhos que são muito bacanas mas não o suficiente para entrar numa lista de melhores de ano. outros, ao contrário, merecem muito mais do que ser listados entre outros discos também bons, mas não sensacionais. nesse último caso, falo especialmente de i am a bird now, de antony & the johnsons, e the weed tree, dos espers; ambos ainda permanecem inteiros na minha cabeça e no meu playlist do winamp. ultimamente, a onda é baixar shows do antony, altamente recomendado. o sujeito tem algumas covers sensacionais: "afraid" da nico (curiosamente também refeita pelos espers), "candy says" do velvet underground (numa versão riquíssima, melhor que a da beth gibbons vista ao vivo), leonard cohen com "the guests", nina simone com "be my husband". E, além disso, ao falar com a platéia, ao pedir pra diminuir a luz dos refletores, ao falar sobre uma música ou ao pedir para o público cantar junto, é de uma delicadeza que corrobora as impressões que já tínhamos dele pela voz e pela forma de cantar. recomendadíssimo está o show feito no festival territorios sonoros, com um som espetacular.
mas um disquinho que não chegou a entrar nos meus melhores mas volta e meia bate nas minhas audições é acoustic: alarm will sound performs aphex twin. a descrição é tão perfeita quanto louca: criar versões com instrumentos acústicos e convencionais para as músicas que richard d. james faz em computadores e aparelhos eletrônicos. se está parecendo apenas uma brincadeira, vamos deixar claro, não é isso. não é só uma preocupação em imitar os sons originais e tampouco de dar uma aura "clássica" ao material (coisa que pode-se dizer que o philip glass tentou fazer quando fez sua versão de "icct hedral"). aqui a graça está toda em testar os limites dos instrumentos, comprovar a necessidade e as originalidades na busca de timbres novos do excêntrico da cornuália, mas também a de, em alguma medida, traçar territórios timbrísticos próprios. Por mais que nenhuma versão das 16 músicas presentes no disco seja superior (também, esperar o quê, né?), as reinterpretações de "fingerbib", "4" e "jynweythek ylow", só para citar três, são delicadas e apaixonantes a sua maneira. e as versões dos selected ambient works mostram que essa turma realmente entendeu do que se trata.
um disco que é do ano passado mas eu só fui descobrir depois de fazer a minha listinha foi o konono no. 1. deixando claro: basta apenas uma audição para deixar completamente viciado e não querendo outra coisa mais. três likembés distorcidos, levadas que deixam qualquer um num transe místico que obriga a dançar e a acompanhar a batida com a cabeça. já imaginou fela kuti trocando os metais por um vibrafone distorcido chegando a uma sonoridade que lembra stereolab? pois é, é por aí (quer dizer, é o máximo que dá pra caracterizar esse som inclassificável). o disquinho chama-se congotronics, e é o primeiro de uma série que a gravadora crammed está lançando cobrindo a música congolesa (o segundo, uma coletânea que contém uma música do konono no.1, já está disponível). é uma pena que, fora esse disco, tudo que resta de acessável desse grupo fabuloso está com uma qualidade muito baixa, difícil de aceitar para quem já ouviu o grupo numa mixagem perfeita. ainda assim, o disco lubuaku e a faixa "mungua-mungua", que andam circulando por aí, merecem ser ouvidos.
por último: meus amigos loucos da revista paisà – uma revista em papel de cinema, que circula por são paulo – estão aceitando meus artiguetes sobre disquinhos, e nessa edição eu mandei para eles elogios ao smash, do jackson and his computer band (não é um dos nomes mais bacanas de banda?) e ao the weed tree dos espers. não coloco online por um motivo simples. pra vocês irem lá, comprar a revista e fazer de sérgio alpendre um magnata das comunicações! ahhh!!!  ¶ 5:36 AM |

  adorável de descascar
não sei o quanto isso já foi propagandeado (ou se já foi), mas descobri por acaso um dos maiores tesouros na internet sobre música pop, principalmente britânica. trata-se do site de john peel, lendária figura que manteve seu programa do final da década de 60 até o começo dos anos 00, quando faleceu. O link do bichinho é http://www.bbc.co.uk/radio1/johnpeel/ e lá poderemos ver uma cronologia das peel sessions, uma seleção das 120 melhores sessões (incluem led zeppelin, captain beefheart, joy division, the fall, sonic youth, nirvana, orb, autechre, entre muitos outros), além das "festive 50", uma paradinha de sucessos votada pelos ouvintes do programa a cada ano, que capturam como poucas coisas o espírito do underground londrino. Impressionante como quase tudo nessas listas é britânico, e é também impressionante a recorrência de certos nomes, especialmnte joy division (nº1 e 3 da lista do milênio, feita em 2000, com "atmosphere" e "love will tear us apart", respectivamente), the fall (presença constante entre os top 3 a cada ano) e wedding present. Dá pra ouvir trechos de quase todas as músicas tanto das listinhas "festive 50" quanto das próprias peel sessions. é sério: é um site tão apaixonante que dá pra passar umas duas horas mexendo nele e nem perceber que o tempo passou. confiram!  ¶ 5:10 AM |