pra coisa nenhuma. mesmo.
quinta-feira, junho 24, 2004
 
duas faixas
"bam thwok" é a primeira canção nova dos pixies. não é a desgraça que muitos de nós fãs poderíamos imaginar, mas também não é nada que acrescente alguma coisa à brilhante discografia do grupo. composta pela kim deal, que com os pixies só fez "gigantic" e "silver", a faixa lembra muito mais amps e breeders, com a única diferença que o homem fazendo barulho atrás é joey santiago, com sua indefectível guitarra cheia de veneno. não parece pixies antigo e nem tem cara de uma "nova fase" – mas, como peça de curiosidade, agrada aqueles que buscavam por alguma coisinha nova desde que ouviram falar da reunião da banda. pra mim, só vale pelo joey santiago mesmo.
"america is not the world" é a primeira faixa de you are the quarry, ressurreição de morrissey para a música. mais um artista que entrou para o rol dos descontentes com o papel dos eua no mundo. "you can shove your hamburger" é a frase mais contundente, mas "the land of the free, they said, and of opportunity, in a just and a truthful way, But where the president, is never black, female or gay, And until that day you've got nothing to say to me" é um registro de contundência por atacar onde menos se esperava (considerando-se que john kerry também não é preto nem mulher nem homossexual). o problema com a canção é que a música é apenas acompanhamento, e um acompanhamento bem bobo, uma bateriazinha eletrônica que acaba não adicionando nada ao todo. viúvas unite, mas eu acho que tô fora. ele sempre foi mais interessante quando esboçava seu lado cínico ou seu desespero pessoal (medo da solidão, ser incapaz de encontrar uma pessoa que combine, os mais freqüentes). essa veemência social funciona no papel, mas o modo de cantar, como em "meat is murder", é chaaaaaato. mas, pode-se redargüir, cumpre seu papel.
 
 
não sei se é verdade que os anos 80 estão dominando tudo num revival parasita. sei que muito do tecnopop dark e do pós-punk suingado voltaram a influenciar diversos grupos, alguns mais interessantes, outros menos. mas é engraçado que os beastie boys tenham realizado com to the 5 boroughs uma espécie de incursão, de longa jornada adentro dos anos oitenta na produção de seu disco mais recente. é muito irônico que eles, que lançaram o hip-hop em outros patamares e outros ritmos com check your head e ill communication, tenham feito um disco de hip-hop estrito, com bateria e efeitos eletrônicos obsoletos, enquanto o universo do hip-hop vive uma profusão e uma promiscuidade de estilos crescente e estimulante.
não que essa seja uma virada revivalista ou reacionária da parte dos beasties. acho que faz muito mais parte de uma história pessoal da banda, de ver o que eles conseguiram ao longo da carreira e voltar ao modo básico, um pouco como o from the cradle do eric clapton (só que bem melhor). enfim, ouvi o disco pela primeira vez com um certo pé atrás, achando que logo ia aparecer um "intergalactic" pra arrombar a pista e ser música do ano, essas coisas. nada disso, nem chega perto. ouvindo repetidas vezes (é, esse é um disco que pega, ou, ao menos, que me pegou), percebe-se que a onda dos caras é outra: rappear sobre batidas, acreditar no potencial da fala e de batidas simples, stick to the oldschool when everybody seems to go new school. "ch-check it out", "rhyme the rhyme well" e "that's it that's all" são matadoras em sua simplicidade, e isso meio que é a chave pro disco inteiro.
outro dado fundamental do disco é a veemência política. eles já tinham feito uma faixa contra a invasão do afeganistão, "in a world gone mad", e agora eles atacam diretamente a administração bush, a fraude nas eleições, a não-assinatura do protocolo de kyoto, a beligerância americana... "it takes time to build", "right right now now", "that's it that's all", e o hino de união racial "an open letter to nyc", que comemora a coesão da cidade sem deixar de mencionar a queda das duas torres. quem um dia iria acreditar que uma camisa dos beastie boys significava propaganda política... eles, que uma vez brigaram pelo direito de festejar, dão às mãos ao public enemy e agora festejam o direito de brigar. brigamos juntos, porque a festa acompanha.
 
 
gelo
christian fennesz é austríaco. isso explica em muito o fato de sua música, para um país como o brasil, funciona muito melhor no inverno. o fato de seu disco novo chamar venice não deve trazer dúvidas: é mais apropriado para se ouvir no frio, como uma trilha sonora ambiente para se ouvir no gelo, deslizando ou simplesmente vendo aquela camada de luz que paira alguns centímetros acima do chão. venice é muito menos abrasivo do que sua obra anterior, por um lado, e também muito menos lírico do que um disco como endless summer. é muito mais apropriado, digamos, para fãs de seefeel, cyann & ben ou m83 do que para os fãs do barulho eletrônico com que ele esteve associado em seu começo de carreira, admiradores de merzbow ou fushitsusha. a falta de lirismo foi o que me incomodou no início, porque eu achava que ouviria certos arroubos emocionais daqueles que me encantaram em "cæcilia", "endless summer" ou sobretudo em "a year in a minute", ainda a minha faixa preferida. mas a construção de camadas aqui é contida, temperada (no sentido climático, até), como certos padrões sonoros de vento. new age, então? sim, venice corre o risco de lembrar certas coisas desse estilo, mas nunca é easy-listening como as coisas que mais incomodam nesse gênero bem riponga e tão chato. mas é só ouvir jóias como "circassian" ou "rivers of sand", que abre o disco, pra entender que a emoção não está vendida fácil ou muito aparente, mas está lá, mais na construção de atmosferas do que na de melodias. "laguna" é toda guitarra, sem efeitos eletrônicos como em "endless summer", a faixa, que começa com guitarra e depois entram os padrões eletrônicos. e essa placidez de "laguna" é logo substituída pela faixa seguinte, "the stone of impermanence" (a faixa entre elas, "asusu", é mais uma vinheta de respiração), em que um fundo eletrônico faz casa pra guitarra trabalhada mais abrasiva do disco, fechando o disco de forma coesa. talvez seja apenas o passo atrás para dar mais dois passos à frente (é o que parece), ou talvez seja – quem sabe – o começo de uma standardização de um noise ambiente. ainda é cedo pra dizer, mas o importante é que o disco tem força.
recentemente, fennesz se juntou com mika vainio (do pan(a)sonic, que já tinha sido seu parceiro) e christian zanesi e lançou um disco sob o nome de grm experience. até o momento impossível de achar no slsk; quem sabe mais tarde...
 
quinta-feira, junho 17, 2004
 
kraut hip-hop
um dos grandes discos de 2004 é também uma colaboração improvável entre um veterano grupo alemão de rock conceitual e um recente grupo americano de hip-hop underground. acabo de ouvir faust & dälek - faust vs. dälek e é um negócio impressionante. algo parecido tinha sido tentado pelo bill laswell em seu projeto material (disco intonarumori), em que a cada faixa alguns rappers e produtores trabalhavam junto com a trupe do honorável baixista. não deu muito certo, ficou um disco meio bobo. mas aqui, faust e dälek parecem se completar, criando um som denso, soturno que consegue parecer muito com cada uma das bandas e ainda assim ser ouvido como projeto único. mais tarde volto ao disco, mesmo porque preciso ouvir mais
ainda ouvindo:
pj harvey - uh huh her
acid mothers temple & ultrasound - in g
a silver mt zion - the "pretty little lightning paw" cdep
bezerra da silva - meu bom juiz
(todos muito bons)
e !!! - louden up now (que engana por um tempo mas é bem bobo)
 
domingo, junho 06, 2004
 
new pornographers e two lone swordsmen
ouvi os dois primeiros discos dos new pornographers e ainda não bateu nenhum motivo de por que essa banda anda sendo idolatrada por aí. ok, é tudo muito certinho, muito bonitinho, mas é aquele mesmo mainstream de pop independente cuja instauração já data de 20 anos (class of 1986 no reino unido e college rock nos eua). não tenho muita coisa pra falar deles não. alguém se habilita?
já o two lone swordsmen é um grupo all-star, e esses dois espadachins solitários são andy weatherall, produtor de discos dos mais importantes da história da música pop no final dos 80-começo dos 90 (loveless, screamadelica), e keith tenniswood, que antes gravava como radioactive man. já tinha ouvido alguns discos, e nunca tinha surtido efeito. o mais recente, from the double gone chapel, é mais diferente, parece bem mais orgânico (a bateria, se não é orgânica, imita). entra no terreno de um eletrônico dark meio em voga, mas que aqui não encontra nenhum momento particularmente impressionante (a faixa 8 talvez seja a mais interessante). no mesmo estilo, por exemplo, o disco novo do archive, noise, dá um show e vence por três corpos de distância. se toda gravadora tem um patinho feio, o tls disputa esse título dentro dessa caixinha de gênios que é a warp records.
 
 
quem mantém e quem decresce
continua impressionante o fenômeno de artistas que lançam um primeiro disco impressionante e cuja continuidade do trabalho não passa de uma dissolução mais pop ou de uma entrega mais-do-mesmo sem a mesma graça. falo isso a propósito de since we last spoke, segundo disco do rjd2, produtor que lançou o belo deadringer em 2002. não que o disco seja ruim. há belos momentos, mas parece que aqui ele quer dar o passo para fora do exíguo universo definitive jux e entrar para os grandes pateões de produtores que remixam singles de grandes estrelas. daí que since we last spoke está mais para neptunes do que para dj shadow. o problema está aí? não. o problema é que, ao contrário dos grandes produtores, não é toda hora que rjd2 acerta quando alça esse tipo de vôo. pelo menos uma faixa, "1976" (que eu já coloquei na coletânea postada pouco tempo atrás), é um impressionante vôo pelo soul dos anos 70 com breaks inequívocos de nosso presente.
o começo de uma listinha nada exaustiva de artistas recentes que caíram depois do primeiro conteria múm (primeiro disco antológico e continuações algo interessantes, mas nada excitantes) e strokes; uma lista de artistas cujos segundos discos encontram-se numa espécie de limbo em que parecem de fato estar continuando o primeiro disco incluiria the books; artistas que arrebentaram no segundo disco incluem prefuse 73, alias, broadcast e four tet (mas o grande até agora é seu terceiro, rounds); uma listinha de artistas que eu espero ansiosamente que lancem seu segundo disco incluiria the avalanches e mombojó.
 

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ao meu jeito eu vou fazer um samba sobre o infinito /// e eu nem sei que fim levou o meu -- risos /// quanto mais conheço o homem, mais eu gosto do meu cão ///

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