pra coisa nenhuma. mesmo.
o rock tá decepcionando? em todo caso, o
clap your hands say yeah é uma chatice sem tamanho, o novo do
blonde redhead, 23, é uns vinte e três passos atrás em relação ao belo misery is a butterfly, e o
arcade fire novo tem algumas belíssimas faixas, mas não é um disco totalmente coeso. sorte que a gente tem acesso a esses sujeitos que fazem música sem letrinha, que não compõem no formato de canções, ou que nem compõem at all.
cheval de frise compõe, é uma dupla de bateria e violão, polirritmia, math rock acústico, mas o mais impressionante é como eles conseguem ser intensos e líricos, colocar a técnica a serviço da criação de determinadas atmosferas, sempre obsessivas, pela repetição de notas, pelo encontro e deencontro aparente dos instrumentos. fresques sur les parois secrètes du crâne é um disco viciante, extraordinário, e que não parece com muita coisa que vem sendo feita ultimamente (talvez
hella?). além disso, ando me maravilhando com uma coleçãozinha de nove discos chamada improvised music from japan. tou ouvindo aos poucos, mas que felicidade é rencontrar
otomo yoshihide improvisando seu fabuloso cathode. muitos nomes desconhecidos, ouvindo aos poucos, comento aqui as impressões. em tempo: tão sabendo que o
new jazz quintet do otomo yoshihide refez out to lunch do eric dolphy, né? finura... depois do
david s. ware refazer há alguns anos a freedom suite de
sonny rollins (com resultado lindo de morrer), nosso japonês das carrapetas faz mais um clássico do jazz moderno. qual é a próxima? in a silent way pelo
fennesz e mais uns cinco caras com laptops? unit structures por... quem?
música para pré-operatório, música para pós-operatório
já que bernieoak me intima a postar aqui com mais freqüência, faço aqui o relato de como as experiências de metal experimental dominam minhas audições, como
orthrelm é uma experiência a ser feita, como
khanate merece ser ouvido, como
sunn O))) é bacana demais, como
kevin drumm e
om são audições necessárias, e a isso vêm se adicionar os já tradicionais
boris,
melvins, etc.
mas eu queria aqui fazer o relato de minhas escolhas antes e depois de ir para a faca, ou melhor, a quase automática opção de se escolher um disco para ouvir quando se está no quase hipnótico momento antes de receber uma anestesia e ir par a sala de cirurgia, e o momento seguinte, a gente acorda, uma intervenção feita no teu corpo, teu calcanhar aberto e costurado, o latejamento acompanhado do torpor da anestesia ainda fazendo efeito. em sua morbidez 2-step, criando uma improvável mistura da danã de garagem britânica com as sonoridades de um matt elliott em período third eye foundation, está lá o
burial (homônimo), um dos discos mais bacanas de 2006, para me fazer companhia nos momentos de apreensão. na volta ao leito, o hex do
earth não faz efeito nenhum, então eu passo direto para uma apresentação conjunta de christian
fennesz e
jim o'rourke, cada um em seus laptops, em 7 de junho de 2001, e a isso segue o fabuloso uchu ni karamitsuiteru waga itami do
keiji haino, disco estranho, estridente como sempre, mas fazendo um sentido incrível para o estado em que meu corpo estava naquele momento. como alívio, vale ressaltar o hell hath no fury do
clipse, cujas batidas secas e os refrões repetitivos ficam bem menos desérticos quando se está propriamente num estado desértico.